Folha de pagamento
vai ficar até 13% mais barata
Medida que reduz
custo com pessoal começa a valer para 11 setores
Victor Longo
victor.longo@redebahia.com.br
Começou a valer
ontem a Medida Provisória (MP) 563/12 que visa estimular a produção industrial
nacional e o setor de serviços através da desoneração da folha de pagamento.
Resultado de negociações entre governo e empresariado, a MP vai reduzir os
gastos com a folha de pagamento de 11 novos setores.
A medida, que faz
parte do Plano Brasil Maior, pacote de medidas do governo federal de incentivo
ao setor produtivo, ainda deverá ser votada no Senado até o próximo dia 15 para
não perder a validade. A expectativa do empresariado é que, em seguida, a
medida perca o caráter provisório e seja transformada em lei.
Segundo o texto, a
chamada contribuição patronal para o INSS, hoje de 20%, será eliminada. Em
compensação, cria-se um novo tributo, que varia de 1% a 2% sobre o faturamento
da empresa, a depender do setor e do tipo de produto.
Os setores têxtil,
moveleiro, plásticos, material elétrico, autopeças, ônibus, naval, aeronáutico
e de bens de capital mecânico deixarão de pagar os 20% ao INSS e passarão a
pagar 1% sobre o faturamento bruto. Já o setor hoteleiro e os fabricantes de
chips serão tributados em 2% sobre o faturamento.
Quatro meses
depois da data em que a MP for transformada em lei, ou a partir de janeiro de
2013, empresas que atuam nos setores de transporte de carga e de passageiros
(rodoviário, marítimo e aéreo), fabricantes de brinquedos (bonecos, triciclos,
trens elétricos, musicais), fornecedores de pedras (granitos e mármores), assim
como parte das empresas que integram a indústria do agronegócio (carnes, soja,
milho), passarão a integrar a lista. Esses setores foram acrescentados ao texto
original da medida pelo senador e relator da proposta, Romero Jucá (PMDB-RR).
As empresas de
couro e calçados, confecções, call center e de tecnologia da informação foram
contempladas no fim do ano passado e voltaram a ter ontem reduções de
alíquotas: elas pagavam de 1,5% a 2,5% sobre a receita bruta e passarão a pagar
de 1% a 2%.
Bahia
Dos 19 setores que
serão contemplados, nove terão maior impacto na economia baiana, de acordo com
o secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia. Além
do setor hoteleiro, o estado possui empresas fabricantes de móveis, de
autopeças e de brinquedos. Tem ainda os fornecedores de pedras, empresas de
transporte de carga e de passageiro, além da indústria do agronegócio. “Não
será uma desoneração muito grande, mas um primeiro passo. Aliada a outras
medidas que vêm sendo tomadas pelos governos federal e estadual, terá um efeito
importante para a classe empresarial”, disse o secretário.
Baseado em números
apresentados por empresários de alguns dos setores beneficiados, o CORREIO
simulou quanto eles podem economizar com
a desoneração, a depender da área de atuação. As empresas de call center estão
entre as maiores beneficiadas no estado, com uma diminuição de aproximadamente
13% nos gastos com folha de pagamento. Uma empresa do segmento com gastos de R$
270 mil com a folha vai economizar até R$ 36 mil por mês, de acordo com
cálculos do diretor da Destak Contact Center, Nelson Normando Júnior.
Segundo ele, hoje
um trabalhador que ganha um salário mínimo (R$ 622) no setor chega a custar
quase o triplo para a companhia. “Contratar alguém por um salário mínimo nos
custa R$ 1.633,68”, calculou. Segundo
ele, o alto custo faz com que em torno de um terço dos gastos de uma empresa do
setor seja com a folha de pagamento.
Custos
No setor de
hotelaria, esses gastos são menores, mas ainda representativos. “Hoje, os
gastos com a mão de obra variam de 21% a 25% dos custos totais de um hotel, a
depender do produto hoteleiro”, calculou Celso Ricci, diretor da Express
Hotels, administradora que opera empreendimentos como o hotel executivo América
Towers. “A desoneração da folha de pagamento é uma grande necessidade para o
setor hoteleiro, uma vez que os custos de contratação de pessoal são muito
altos”.
De acordo com
cálculos feitos por empresários da hotelaria, uma empresa de porte médio que
tem um faturamento de R$ 1 milhão e gastos de R$ 300 mil com a folha de
pagamento vai economizar, por mês, até R$ 20 mil, o equivalente a 6,7% dos
gastos com a folha.
Porém, como o
valor economizado varia de acordo com o faturamento e com o número de
empregados contratado, outros empreendimentos podem economizar menos. Segundo
cálculos do setor financeiro do América Towers apresentado por Ricci, a
desoneração vai gerar uma economia de 2,2% dos gastos com a folha de pagamento.
Para o diretor da
Express Hotels, a economia com a desoneração poderá ainda beneficiar o
consumidor, pois será convertida em investimentos, como a manutenção das
instalações e equipamentos, a qualificação de empregados, assim como em novas
contratações. “Essa desoneração é positiva, mas a medida deve ser associada a
um trabalho do poder público para melhorar a cidade”, considera Ricci.
Transporte
Por sua vez,
empresários que prestam serviços de transporte de passageiros em Salvador
preveem uma diminuição de 2,4% nos gastos com a folha de pagamento. Porém, o
setor está no segundo grupo dos beneficiados e a desoneração ainda não está
valendo.
Segundo Jorge
Castro, diretor de relações sindicais do Setps, sindicato que representa
empresas do ramo, hoje o setor tem um faturamento mensal de R$ 80 milhões,
enquanto os gastos com a folha de pagamento chegam aos
R$ 32 milhões (o
equivalente a 40% do total faturado). Com a mudança da legislação, Castro espera
que o setor como um todo economize aproximadamente R$ 768 mil mensais. Ao todo,
18 empresas atuam no setor em Salvador.
No entanto, Jorge
Castro considera que os gastos com pessoal continuarão muito altos. Apesar de
admitir o lado positivo da Medida Provisória, ele a considera insuficiente.
“Esse tipo de coisa ajuda, mas não resolve o problema como um todo, é apenas um
remendo. O Brasil precisava fazer uma reforma tributária completa, para
transparecer o quanto é pago de imposto pelo empresário e pelos cidadãos”,
critica.
A Federação das
Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) comemorou a medida para desonerar a folha
do setor, mas também apontou críticas. O coordenador do Conselho de Relações
Trabalhistas da entidade, Homero Arandas, que também é da área de relações
trabalhistas da Braskem, considerou a legislação positiva, mas “tímida”.
“Muitos setores
ficaram de fora, como o petroquímico, que tem uma forte presença em Camaçari.
Os custos para contratação nesse setor são muito altos”, reclamou Homero
Arandas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário