BRASIL
Ipea admite erro e
diz que 26%, e não 65%, acham que roupa justifica estupro
Diretor da área
social do instituto pediu demissão assim que o erro foi encontrado
O Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea), do governo federal, divulgou nesta
sexta-feira (4) uma nota reconhecendo que houve erro na divulgação que chocou o
país ao dizer que a maioria dos brasileiros (65,1%) apoia ataques a mulheres
que usam roupa curta. Segundo o Ipea, por uma troca nos gráficos da pesquisa
divulgada, o resultado divulgado está errado.
Os percentuais
corretos são: 26% concordam, total ou parcialmente, com a afirmação “mulheres
que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"; e 70% discordam
total ou parcialmente. Outros 3,4% se dizem neutros. O diretor da área social
do Ipea pediu a sua exoneração assim que o erro foi detectado.
A pesquisa, com os
dados errados, gerou enorme repercussão e uma campanha em redes sociais com o
lema #eunãomereçoserestuprada. A onda de indignação teve apoio até da
presidente Dilma Rousseff (PT).
Por meio de nota, o
Ipea ainda corrigiu outro par de questões que tiveram os resultados invertidos.
Questionados, sobre “o que acontece com o casal em casa não interessa aos
outros”, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram
parcialmente, 1,9% ficou neutro, 31,5% concordaram parcialmente e 47,2%
concordam totalmente.
Diante da sentença
“em briga de mulher, não se mete a colher”, 11,1% discordaram totalmente, 5,3%
discordaram parcialmente, 1,4% ficou neutro, 23,5% concordaram parcialmente e
58,4% concordaram totalmente.
De acordo com o
instituto, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos
entrevistados com a ideia de que “se as mulheres soubessem como se comportar,
haveria menos estupros”.
“As conclusões
gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões
e debates da sociedade sobre seus preconceitos”, informou a nota. O
levantamento ouviu 3.810 pessoas de ambos os sexos entre maio e junho do ano
passado.
Campanha
A pesquisa gerou uma
grande campanha sob o nome “#nãomereçoserestuprada e provocou uma resposta da
presidente Dilma. A presidente solidarizou-se com a jornalista Nana Queiroz,
que foi ameaçada na internet após iniciar a campanha nas redes sociais contra a
violência contra a mulher.
“A jornalista Nana
Queiroz se indignou com os dados da pesquisa do Ipea sobre o machismo na nossa
sociedade. Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência
contra a mulher, a jornalista foi ameaçada de estupro. Nana Queiroz merece toda
a minha solidariedade e respeito”, escreveu Dilma em sua conta pessoal no
Twitter. Nana Queiroz postou uma mensagem no Facebook na sexta-feira (28) com
uma foto em frente ao Congresso Nacional, em que aparece sem camiseta e com a
frase “Não mereço ser estuprada” escrita no corpo, convocando o protesto
virtual. Várias mulheres publicaram fotos semelhantes, demonstrando indignação
com a pesquisa.
Após a publicação, a
jornalista foi ameaçada por internautas. “Amanheci de uma noite conturbada.
Acreditei na pesquisa do Ipea e experimentei na pele sua fúria. Homens me
escreveram ameaçando me estuprar se me encontrassem na rua, mulheres escreveram
desejando que eu fosse estuprada”, relatou Nana em sua página na rede social.
Famosas como Valesca
Popozuda, Daniela Mercury, Nana Gouvêa, Geisy Arruda, Claudia Leitte e Juliana
Paes aderiram à campanha. As informações são da Folhapress e da Agência Brasil.
Reportagem: Correio