Azeite de dendê é
combustível para expedição de pesquisadores ao Peru
Eles farão uma
viagem de 15 mil quilômetros em 20 dias utilizando o biodiesel B100, produzido
no Laboratório de Energia e Gás (LEN) da Ufba
Você já imaginou
fazer uma viagem de carro até o Peru utilizando o azeite de dendê do acarajé
que comeu no fim de semana como matéria-prima para o combustível? Acredite:
essa façanha é possível. O professor Ednildo Torres, da Escola Politécnica da
Ufba, e outros cinco pesquisadores vão provar isso a partir de hoje.
Eles farão uma
viagem de 15 mil quilômetros em 20 dias utilizando o biodiesel B100, produzido
no Laboratório de Energia e Gás (LEN) da universidade a partir de matérias-
primas como azeite de dendê, óleo de cozinha (soja, milho, algodão e canda). A
rota começa em Salvador e termina no Peru.
Os seis
pesquisadores, que são da Ufba, da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da
Universidade do Minho (Portugal), sairão do Porto da Barra, costa do Oceano
Atlântico, em duas Ford Rangers XLT 3.0 Diesel doadas pela Ford, e irão por via
terrestre até o município peruano de Ilo, banhado pelo Pacífico.
Um dos veículos
levará três pesquisadores abastecido com B5, o diesel vendido nos postos de
combustível, composto de apenas 5% de biodiesel.
O outro será
abastecido com o combustível B100, cuja composição é 100% de biodiesel,
totalmente produzido na Escola Politécnica, no bairro da Federação. O azeite de
dendê e o óleo de cozinha usados na fabricação do B100 são coletados em
hospitais, restaurantes e em algumas residências de Salvador.
Sustentabilidade
O projeto,
intitulado Travessia Interoceânica B100, tem o objetivo de contribuir para a
formação de uma cultura de desenvolvimento sustentável, estimulando o governo a
aumentar as plantações de dendê, soja e outras matérias-primas para a
fabricação do combustível.
“Hoje não existe
um programa para aumentar a produção de dendê para o biodiesel. Há muitas áreas
degradadas no Sul e Sudeste da Bahia que poderiam ser utilizadas para isso”,
sugere o coordenador do LEN, professor Ednildo Torres, do departamento de
Engenharia Química da Ufba.
Segundo os
pesquisadores, apesar de o governo federal apostar mais na plantação de soja, o
dendê é mais viável, por produzir mais óleo. Enquanto a soja gera 400 litros de
óleo por hectare plantado, o dendê gera 4 mil litros no mesmo espaço.
Segundo ele, no
governo Lula, houve um maior incentivo à produção do biodiesel, mas Dilma
Rousseff tem priorizado o pré-sal. “Em contrapartida, Dilma tem apostado mais
na energia eólica”, completou.
De acordo com o
especialista em combustíveis da Unifacs, professor Luiz Pontes, a pouca oferta
de matéria-prima para a produção de biodiesel e a alta demanda desses produtos
para a alimentação são fatores que tornam a utilização de biodiesel pouco
viável. “Hoje, o biodiesel só é economicamente viável a partir da isenção de impostos
concedida pelo governo”, diz. Segundo ele, 90% do biodiesel nacional tem o óleo
de soja como produto.
Logística
Para a viagem, os
professores levarão 1,2 mil litros de B100 dispostos em recipientes de 50
litros. Cada uma das caminhonetes levará 600 litros. Utilizando o B5, a Ford
Ranger roda 12 quilômetros por litro de combustível, segundo os pesquisadores.
Com o B100, o mesmo veículo é capaz de rodar 11 quilômetros por litro
consumido. Essa é a primeira expedição dessa magnitude realizada com o B100
produzido na Ufba. “Antes, fizemos em torno de 8 meses de testes”, contou
Torres.
A viagem teve um
custo total de R$ 60 mil, dos quais R$ 30 mil foram doados pela Bahia
Engenharia e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). A
Petrobahia doou R$ 5 mil em combustível B5. Os custos restantes serão cobertos
pelos pesquisadores.
By: Correios (Jornal)