Católicos baianos
são surpreendidos com renúncia do Papa Bento XVI
Anúncio feito
nesta segunda-feira (11), perto da Quaresma, pegou de surpresa alguns fieis baianos
Jorge Gauthier
jorge.souza@redebahia.com.br
Perplexidade e
surpresa. Foi com esse misto de sentimentos que fieis baianos receberam nesta
segunda-feira (11) pela manhã a notícia da renúncia do Papa Bento XVI. Moradora
do bairro do Cabula, a aposentada Eva Andrade, 57 anos, diz que a notícia foi
inesperada principalmente perto da quaresma.
“Fiquei surpresa.
Eu estava na Igreja em oração quando soube da notícia. Fiquei sentida, mas Deus
deve guardar um nome para comandar nossa igreja”, afirma a religiosa que
congrega na Igreja Católica da Graça Divina.
O seminarista
Rubens Dias, 29, se prepara para tornar-se padre. Para ele, o papa sai de forma
digna do pontificado e ainda deixa um exemplo. “É muito difícil saber a hora de
parar principalmente quando se tem uma função tão importante como era o caso
dele. Tenho ele agora com um exemplo de reconhecimento da limitação do nosso
corpo, mas não da nossa fé”, pontua.
O empresário Jorge
Sousa, 48, que congrega na Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no Imbuí, espera
que o novo papa seja mais flexível. “Esse papa era muito conservador. Nossa
Igreja precisa evoluir, conquistar mais fieis”.
O administrador
Osmar Silva, 34 anos, não esconde a admiração pelo antecessor de Bento XVI, o
falecido papa João Paulo II. “Eu gostava mais do outro papa. Espero que agora o
próximo venha com energia nova para renovar a Igreja”, defende.
Renúncia
A renúncia foi
revelada pelo próprio Papa, que tem 85 anos, durante um consistório de
canonização de dois mártires. O anúncio foi confirmado pelo Vaticano.
Até que um novo
Papa seja escolhido, o posto ficará vago. Segundo Vaticano, o novo Papa deverá
ser escolhido até o final de março. O último pontífice a renunciar foi Gregório
XII, em 1415.
Em um comunicado
feio em latim, Bento XVI afirmou que vai deixar o cargo por "não ter mais
forças" para exercer o cargo devido à sua idade avançada.
Polêmicas
enfraqueceram Papa, diz Dom Murilo
Os casos de
pedofilia dentro da igreja, as polêmicas envolvendo outras religiões e as
posições conservadoras sobre temas tabus como aborto e casamento entre gays
marcaram os sete anos de pontificado do papa Bento XVI.
Para o Arcebispo
de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, esses fatores colaboraram
para a decisão do pontífice de abandonar o posto mais alto da Igreja. “Não vou
dizer que foi decisivo, mas acredito que isso colaborou. O cargo que ele ocupa
é pesado e quanto mais problemas se enfrenta mais difícil fica sendo a missão.
Tudo isso pode ter ajudado para a decisão. Esperar que um homem de 85 anos
enfrente isso tudo com vigor é difícil”, disse
Krieger em entrevista ao Correio, por telefone, na manhã de hoje.
O alemão Joseph
Ratzinger, que sucedeu o papa João Paulo II, já assumiu o posto de papa da
Igreja tomando decisões polêmicas. Em 2005, Bento XVI impôs restrições a
homossexuais se tornarem padres. No ano seguinte, em visita a Polônia, irritou
judeus por não mencionar o antissemitismo cristão em seu discurso.
Em 2011, a Rede de
Sobreviventes de Abusados por Padres (SNAP) acusou o papa Bento XVI de abafar as denuncias de
estupro e outras violências sexuais
praticado por padres. Em 2006, afirmou que o islã era violento e
irracional, citando o imperador bizantino Manuel II Paleólogo. Dias depois, ele
disse que foi mal compreendido.
A interpretação
das frases do papa Bento XVI, segundo Dom Murilo, foram justamente o ponto mais
sensível da sua gestão a frente da Igreja. “Ele pegou o mundo e a Igreja numa
fase muito turbulenta. O mundo vive uma fase muito rápida. Algumas palavras
dele foram mal interpretadas e, pela velocidade das informações no mundo, as
correções não tiveram a mesma repercussão”, destaca.
"Essa decisão
foi um ato de fé e honestidade do Papa Bento XVI, que deu um exemplo do
reconhecimento das suas limitações", disse Dom Murilo. Os dois se encontraram
durante uma audiência pública no Vaticano, no dia 9 de janeiro, em que
estiveram presentes bispos do mundo todo.
Dom Geraldo
Majella é nome forte
Um dos nomes mais
cotados para suceder Bento XVI é dom Geraldo Majella Agnelo, 79 anos, atual
arcebispo emérito de Salvador (BA). Ele teve o pedido de renúncia aceito pelo
Papa Bento XVI, em 2011, quando deu lugar ao arcebispo de Salvador e primaz do
Brasil Dom Murilo Krieger.
O outro cotado é
dom Raymundo Damasceno, atual arcebispo de Aparecida e Presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ainda estão na lista cotada
pelo bispo Nicioli, dom Cláudio Hummes, 78 anos, arcebispo emérito de São
Paulo; Odilo Scherer, de 63 anos, atual cardeal arcebispo de São Paulo; e dom
João Braz de Aviz, de 66 anos, que mora
em Roma e é prefeito das congregações dos religiosos em Roma.
Leia abaixo a
íntegra do comunicado do Papa Bento XVI:
"Queridíssimos
irmãos,
Convoquei-os a
este Consistório, não só para as três causas de canonização, mas também para
comunicar-vos uma decisão de grande importância para a vida da Igreja.
Após ter examinado
perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela
idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério
petrino. Sou muito consciente que este ministério, por sua natureza espiritual,
deve ser realizado não unicamente com obras e palavras, mas também e em não
menor grau sofrendo e rezando.
No entanto, no
mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de
grande relevo para a vida da fé, para conduzir a barca de São Pedro e anunciar
o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor
que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer
minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado.
Por isso, sendo
muito consciente da seriedade deste ato, com plena liberdade, declaro que
renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi
confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005, de modo que, desde 28 de
fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro ficará vaga
e deverá ser convocado, por meio de quem tem competências, o Conclave para a
eleição do novo Sumo Pontífice.
Queridísimos
irmãos, lhes dou as graças de coração por todo o amor e o trabalho com que
levastes junto a mim o peso de meu ministério, e peço perdão por todos os meus
defeitos.
Agora, confiamos à
Igreja o cuidado de seu Sumo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e suplicamos a
Maria, sua Mãe Santíssima, que assista com sua materna bondade os Cardeais a
escolherem o novo Sumo Pontífice. Quanto ao que diz respeito a mim, também no
futuro, gostaria de servir de todo coração à Santa Igreja de Deus com uma vida
dedicada à oração.
Vaticano, 10 de
fevereiro 2013."
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